individualidades

domingo, dezembro 31, 2006

2006

“My face in thin eyes, thin in mine appears
And true and plain hearts do in the faces rest;
Where we can find two better hemispheres,
Without sharp north, without declining west?
Whatever dies, was not mixed equally;
If our two loves be one, or thou and I.
Love so alike, that none do slacken, none can die”

Béroul


As luas não mudam, as estações não se encontram, mudam-se os números e encontram-se as promessas de um ano. São 365 dias, não é sequer um número par, não é nada…
Isto é uma rectrospectiva, e é no fundo o que é expectável. Embalada pelos festejos e desejos ao som dos segundos, eu faço aqui uma despedida…
O ano começou da mesma maneira como se encerra, em enganos, onde o maior de todos é o que me provoco diariamente. Errante vejo a vida passar em dias contados, não peço desculpa pelo orgulho. Prepotente, piso o ego na procura do seu alter, o empáfio alter-ego. Como se o caminho mais fácil, fosse no fim o certeiro. Como digo, comecei o ano numa burla de sentimentos, num jogo de palavras e acções, na esperança de que um resultasse noutro, perdida no meio e encontrada pela súbita consciência do ridículo. No mesmo impasse da terra em retomar o ciclo, eu recuso-me a correr na mesma direcção. Cansada do despotismo por uma versão melhorada de mim, sou por fim isto mesmo. Pouco boleada e ciente dos defeitos…e à parte de alguma humildade frugal, arrisco-me conscienciosa das qualidades também.
Dizem que ando a apurar o meu mau génio, acho graça, que só agora se tenham dado conta de que o tenho. Depois de tantas confissões remeto-me para o pano dos imperfeitos, a imperfeita filha, a imperfeita irmã, a imperfeita amiga, a imperfeita namorada…faço parte do mundo, finalmente! É isso que tenho a agradecer…
Sinto-me devolvida aos dias.

Não obstante, e não querendo tornar num memorando o ano 2006, tenho a dizer que foi dos melhores, com as melhores musicas, os melhores filmes, os melhores risos e choros, sentidos. Encontrados os melhores amigos, os melhores amores, as melhores noites, os melhores dias, as melhores bebedeiras, os melhores orgasmos, os melhores sentimentos…
Não é no começar de um ano que tudo muda é na validação do que se promete… que venha outro!

Ana

domingo, dezembro 17, 2006

Rectrospectiva

Sem dizer adeus, vi os teus gestos denunciarem-te os pensamentos. Abandonei-te, destroçado, mas não até áquelas palavras. Choraste por mim como chorei por ti. O que os estigmas fazem na pele muda o que somos. Enquanto tudo à nossa volta volta a cair, tudo o que nos fazia viver mata-nos. Ao fim deste tempo, acho que não queres ouvir, não precisas de ouvir… mesmo quando os meus olhos não querem ver, que mudámos os dois de maneira a não nos encontrarmos mais. Um ano passou e nem tudo mudou…à sombra do fado.

Ana

terça-feira, dezembro 12, 2006

...

E a que devaneios nos podemos permitir depois de tamanha ausência? Será que nos podemos permitir alguma coisa? Ou será que a ausência transporta em si o peso de perder os direitos seja do que for? Deitada entre devaneios de alma e vazios de ti, espero ansiosamente por noticias tuas, espero que nas linhas do tempo o nosso tempo volte a acontecer, e sem escritas nem ditos, se voltem a tecer os fios com que escrevemos a nossa história. Enrolo o cabelo nos dedos, como se enrolando a minha vida estivesse, risco e rabisco aquela folha de papel, só para ter a certeza de que ainda vou deixando as minhas marcas no tempo… porque partiste, porque deixaste vazio aquele teu lugar? Será que voltas no nevoeiro, ou isso é apenas uma lenda de pessoas onde a esperança ainda habito o mundo interno? Está frio, mas não me posso permitir fechar aquela janela, foi nela que esperei por ti horas a fio, e tu vinhas sempre… lembras-te que trazias sempre o mesmo sorriso? Lembras-te que éramos felizes? Lembras-te de mim?
kiki

Shelter

Escolher o mesmo vestido, reconhecer o choro antes da lágrima, sorrir sem ter que dizer uma palavra, á minha melhor amiga, á minha companheira de noites claras, a minha mão e o meu ombro, á minha irmã. São vinte e dois anos, de tanta coisa! Faltam-me as palavras… estiveste lá, estás sempre lá. No lambrim da rua, na discussão, ao telefone, na ausência, na presença, na mesa, no filme, na musica… sei que muito do que vivi, não seria o mesmo sem ti. Tenho de ti o melhor, e eu adoro-te onde as palavras já não existem. Tens sido tanto para mim!
Onde tudo está errado, é de ti que oiço quando se apagam as luzes, a verdade das mentiras, conheces-me como ninguém. Se ao menos soubesses!
Onde a cumplicidade nos encontra…
Parabéns pequenina, por tudo!

Ana

sábado, dezembro 09, 2006

pigmeus asmáticos

É na doença crónica das batidas de um compasso, que se encontram as deficiências neurológicas. Sente-se demasiado ou excede-se no pensamento, o meio-termo sempre foi o jogo subversivo do gostar. Ainda assim ditamos o que sentimos ao ouvido da consciência, como gatos com cabeças de peixe… a respirar algo novo:
«O amor – centelha sublime que enobrece e escraviza a Humanidade, dúvida perene que lhe dá a torturante certeza do Engano – abre os braços jovens e fortes à Beleza, imagem translúcida e fugidia, gémea do Desejo e, quando os fecha, só neles encontra, já sem vigor, a senil Velhice, fria e execranda como a Morte». Acalmamos a enfermidade que nos sufoca. O dom da clarividência não toca a todos. De repente, permanece a duvida se o mérito virá com a existência da ciência da vida…em que amar é uma doença. Não é um cancro, é uma asma, com bombas para aliviar o sôfrego estar de quem não controla a respiração. Escravos do desejo, errantes pelo engano. É só na morte que se revelam videntes as palavras. Somos pigmeus de asma hoje, pequenos como o ego pendular que nos segura a cabeça num ritmo de intermitente sujeição e elevação. Somos pigmeus de asma hoje mas médicos de gigantes amanhã…

Ana

quinta-feira, dezembro 07, 2006

passiva-agressiva

Quando o vazio ocupa tudo. Inesperadamente. Resta-nos olhar para o espelho e ver mais do que uma cara e um corpo que veste uma pele de passiva-agressiva.

Ana