individualidades

terça-feira, maio 29, 2007

conversas no ermo

Esquece-te do mundo. Do medo do nada, aquele nada que é tudo. Caminha só, pelas listas do passeio. Salta como quem salta momentos. Deita-te, cansada nessa cama de sonhos. Cheira as memórias. Engana-te mais uma vez. Tudo o que és e tudo o que foste, está nas pequenas coisas de menina. Não cresças!
Crescer é morrer.


Ana

quarta-feira, maio 09, 2007

epístola

belisca-me, já nao sinto nada!

Ana

terça-feira, maio 08, 2007

instantes decisivos

Sentei-me naqueles lugares, sento-me sempre que estão disponíveis. As vezes, até prefiro ir de pé, não importa que seja a janela ou no corredor, importa que seja aquele, onde dobro as pernas de encontro ao lugar da frente, até o passageiro se incomodar. Não o faço de propósito, apenas tenho uma maneira estranha de me sentar em todo lado.
O comboio desenha a costa, dá luz e mostra a sombra. Nunca esta de facto escuro. Sempre tive iluminações aí! Comporto-me como uma viciada e a sua droga…incapaz de não provar o gosto amargo que nos trás na boca.
Eu não gosto de transportes públicos. Normalmente cheiram mal, e tem gente esquisita. Não socializo. Não olho. Não nada. Estou ali de passagem…
Naquela tarde sentei-me naqueles lugares. O lugar da janela estava ocupado por um tipo…era grisalho, e embora nem sempre dite a idade, dita a volecidade com que a vida lhe corre no corpo. Não me importei que me tivesse roubado o lugar, não me importei de sentar ao lado dele. Até tinha bom aspecto e não cheirava mal. Procuro sentar-me de forma a não haver contacto físico, só de forma a incomodar o da frente. Ele olha para mim, para a minha posição. Acho que não gostou. De certa forma até acha mal…mas não me importo com isso. Já passaram tantas vidas ali…
O seu olhar é desviado pelo anuncio da próxima paragem, era qual? Carcavelos? Sim, era essa.
Boa paragem essa. Entra sempre gente bonita…e entrou, e ele olhou. Ela sentou-se na ponta, olhou para ele e gritou um riso. Levantou a mão a dizer, eu sei que estas ai! Ele também. Bem menos expansivo do que ela, diria que até foi de uma timidez atroz, como se ela fosse a empregada de limpeza que encontramos em sítios estranhos, na casa-de-banho ou na mesma loja que ele. Parecia que quase não queria que ela estivesse ali. A sorrir para ele. A desviar o olhar e a dá-lo de comer pelo reflexo da janela.
Ele estava ao meu lado, estava à janela. Aqueles lugares pareceram pequenos demais. Não parava quieto, quase que o ouvia a pensar. Enrolava os dedos e eu pensava – tu queres ir falar com ela. Vai! Mas o que é que estas aqui a fazer? Vai! Ela também quer! Ela também gosta de ti! Vai! – Mas ele não ia! Continuava imóvel. Passou-me pela cabeça dizer-lhe se não queria que cedesse o MEU lugar…mas aquela estória estava demasiado barulhenta para mim…no silêncio em que estava.
Agarrei nas minhas músicas e mantive-me ali, ao lado dele… como quem segura a mão à enfermidade. A tentação é lixada!
Eles continuam a olhar-se como se não houvesse paisagem. Ele nesse aspecto é mais directivo, ela continua a espelhar o olhar. Ele percebe!
Próxima paragem: Parede.
Ele indica-me a escolha que fez…chateio-me! Já o podias ter feito à mais tempo!
Vai ter com ela!
Não sai na Parede nem em São Pedro, nem em São João! Vai comigo e com ela até Cascais.


Ana

a ti (parte II)

Não interessa a quem…interessa a Alguém.
Porque fui alma durante um ano, numa vida inteira…
Tornou-se num inside job deste dia, como se de alguma forma, até ai não se conhecesse a sua existência. Daí também não terminou, porque a alma não pára na letra A.
Nada na vida nos prepara para alguém assim…

No dia em que tudo mudou…

Beijo de mim, a ti


Ana