madrugada de nevoeiro
A noite assombra os mais pardos, o fardo pesa-lhe os sentidos.
Aquele que prometeu cegar, adoeceu em tempo de guerra.
Ele chora todas as noites, enganado pela vida. Já não lhe sente o sabor, já não lhe conhece a dor, as maiores mágoas sempre foram as de feliz memória e sim, ele foi feliz, um dia.
O pior que lhe poderia acontecer era esquecer e isso aconteceu quando marcou o seu nome naquela lápide. A morte anunciada pelo derradeiro suspiro. O arrepio da lembrança que provou, um dia.
As lágrimas secaram-lhe o rosto. Volta o esforço, só para não ser a excentricidade na escuridão. O corpo dissera-lhe que estava vivo, um dia, mas até ele desistira de pesar a alma de um logro. Procurava sempre adormecer na madrugada quando o dia acordava, na tentativa de uma noite voltar a sentir. Sentir qualquer coisa. Aí sonha. Não se sonha, mas certo é sonharem por ele.
Nunca esqueceu uma cara, sempre o que esteve por baixo a começar pelo nome, à sua maneira de fumar o cigarro.
O dia funéreo, foi o dia em que deixou de gostar das pessoas. De tudo sobre elas, até aquelas que ele desejara ser, um dia. Aquelas que choravam de dor.
A melhor relação que tem é com o seu livro preferido, o de Heródoto, o pai da história que ele queria ter escrito. A pior, consigo mesmo.
Não é velho, não, nada disso. É ainda demasiado novo para morrer, morrer por fora, por dentro só foi preciso um Estio de incêndios. Sugou-lhe a vida. Vendeu a alma.
Ainda são as noites que tenta adormecer, de corpo frio, mãos dormentes e olhar vidrado, a fingir destino. E Ele nunca o apanha. Nunca o apanha.
Mas há esperança, há esperança para todos nós.
Ana